Por Pedro Nunes
Meu caro Francisco. Desculpe-me a informalidade. Sendo meu tratamento respeitoso, não faz mal a intimidade de minha comunicação. Vale mesmo é a convicção que tenho de sua importância para a humanidade. Se incomoda que eu tenha esse monólogo solitário com você? Creio que não!
Gosto muito de suas posturas corajosas e ações transformadoras. Cristo não foi um radical, um revolucionário, um reformador de mentalidades e de consciências? Foi, sim! Acho que essa é sua missão: expulsar os vendilhões de todos os templos sagrados da fé. Percebo que você começa a deixar as indumentárias purpúreas, substituindo-as por vestes brancas que sinalizam paz e humildade. Roupas bordadas de ouro são herança de um passado de equívocos que carece ser reformado com muita firmeza e urgência para dar espaços à essência cristã. Luxo, riqueza, suntuosidade não me parecem sinalizadores de espiritualidade, muito menos continuidade da missão redentora de Cristo.
Que tal utilizar de forma inteligente os lucros resultantes de todo o imenso patrimônio que o Vaticano possui no mundo? Importa dar um novo rumo espiritual à humanidade. Essa seria uma forma objetiva de consertar imensos erros cometidos pela Igreja durante séculos. Pedidos de desculpas não são suficientes porque não conseguem repor os danos causados.
Não aceite esse título pomposo e inadequado de Chefe de Estado e resista se deslocar rodeado de um exército de seguranças. Sua missão é antes de tudo pacificadora. Aquele Francisco que lhe serve de modelo foi radical ao despojar-se de suas riquezas. Por isso a vida dele continua sendo uma referência que marca a humanidade de forma positiva.
Todas as manhãs na hora do café, os canais de televisão transmitem programas recheados de futilidades ou noticiários sensacionalistas que não somam, mas atraem altos índices de audiência e rendem publicidade. O que percebo é a necessidade de um contraponto. A imensa riqueza do Vaticano precisa ser empregada para difundir ensinamentos que tenham utilidade para a humanidade. Veja que escolas cristãs suntuosas existentes no mundo inteiro funcionam para prestar serviço educativo de alta qualidade apenas às classes ricas e não às famílias em estado de necessidade e sem oportunidade de vida. Nas igrejas, chega de rituais e jaculatórias vazias. Basta de dogmatismos e práticas religiosas alimentadas por crenças superadas e fervor à base de emoções exacerbadas. Estamos num mundo que busca ardentemente a verdade.
Penso que o Vaticano tem condições de instalar uma comunicação global que valorize a ciência como manifestação da onipotência divina, a filosofia como um canal de sabedoria, a teologia como uma busca do transcendental, a educação como uma base para a cidadania e a consciência de que o progresso só traz felicidade se for um projeto coletivo.
Ninguém de bom-senso suporta ver na TV pregadores farsantes, falsos milagreiros e mercadores da fé enganando os incautos. Nos canais de comunicação cristã, o contraponto desses embusteiros tem sido a presença de padres carolas, conservadores, exclusivistas, reféns de dogmas e preconceitos. Queremos substância: ouvir entrevistas construtivas com teólogos, filósofos, professores, cientistas, médicos, escritores, poetas, artistas, gente capaz de se comunicar com o povo e transmitir conhecimentos úteis, sabedoria e valores. É isso que dá credibilidade a qualquer religião, multiplica a fé, fortalece a crença num Deus real, ilumina os caminhos do povo, robustece a cidadania e alarga os caminhos da humanidade.
A gente percebe que você quer mudar, destronar as forças do mal que se instalaram até nos templos. Que bom você perceber isso e ter coragem de agir! Tanto assim que há poucos dias, um monsenhor ocupante de alto cargo na cúpula do Vaticano foi preso, será julgado e condenado pelo crime de se passar por mula transportadora de dinheiro criminoso e sujo. A publicidade desse fato não denigre a Igreja. Pelo contrário, ilumina. Está na hora de acabar com essa cegueira de se imaginar dono da verdade e da palavra final. A verdade não tem dono, é uma busca. Verdades que não aceitam ser confrontadas com outras de igual robustez conduzem ao erro.
Você veio para iluminar mentes e abrir janelas de esperança. Não se constranja em expor as vergonhas que jazem em porões, altares e sacristias. Sem essa coragem não haverá mudanças. A providência divina quer que você caminhe nessa direção.
Aqui no Brasil, estamos esperando por você. Com sua força e simplicidade de pastor você haverá de iluminar a mente do povo brasileiro, necessitado de espiritualização e consciência cívica, para melhorar suas escolhas e dar rumo à nação.
Venha, SIM! Nós o esperamos de braços abertos!
PEDRO NUNES FILHO
*É advogado e sócio do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco – IAHGP.
Email: pnunesfilho@yahoo.com.br
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