Palma para as multidões

Por Pedro Nunes

ImageEu acho todo esse movimento um avanço extraordinário como um despertar democrático de um povo que viveu sempre apático e indiferente ao próprio destino.

As elites estão assustadas porque não gostam de abalos. Tudo o que treme junto delas representa ameaça à sua estabilidade e segurança, que é grande, mas nunca é total, especialmente quando se trata de lidar com as vontades das multidões. Os miseráveis não têm o que buscar nas ruas. Já estão satisfeitos com o governo de Lula e Dilma porque foi exatamente na era do PT que aumentou o número de caroços de feijão fundo da panela deles. Trata-se de uma enganação eleitoreira chamada transferência de renda, dinheirama que finda mesmo é no bolso dos que detêm os meios de produção, beneficiados com o crescimento do consumo de uma classe social que nada possuía dentro de casa e, de repente, passou a comprar pouco, mas no todo, um volume muito grande, em se tratando de população numerosa. O que decide a vida dos miseráveis é o estômago e agora a possibilidade de ter um celular nas mãos.

Quanto à classe média, quem não caiu de padrão, também não avançou em nada. Pelo contrário, é exatamente esta fatia da população que mais é penalizada em matéria de exigências tributárias. Além disso, pagam educação e saúde muito caras e vivem num mundo de total insegurança. Enfim, sendo uma classe social politizada, é natural que surja essa reação inesperada, não por causa de passagem de ônibus, mas porque tomaram consciência de que a única esperança que tinham era o PT e este sucumbiu moralmente. De sorte que, agora, o jeito é ir às ruas e começar a tomar as decisões importantes de que o Brasil precisa, já que ninguém, e verdade maior que esta não existe: absolutamente ninguém se sente representado nem no Congresso Nacional, nem nas Assembleias Legislativas, nem nas Câmaras Municipais.

O que faz essa gente que se elege e silencia diante da corrupção? O povo está certo, indo às ruas exigir que votem contra a PC-37, que penalizem a corrupção como crime hediondo, que reduzam a farra dos ministérios para a metade, que reduzam também, pela metade deputados federais, estaduais e vereadores, que essa gente custa umafortuna aos cofres públicos. Além disso, o povo quer mesmo é investimentos em saúde e educação, com o mesmo apetite e rapidez que investiram na Copa, algo absolutamente desnecessário diante dos péssimos serviços públicos oferecidos ao povo.

Por que os hospitais públicos não possuem o mesmo padrão dos estádios de futebol? Nos anos 70, a Ditadura investiu no “pra frente Brasil” e deu certo. O povo embarcou na onda do futebol. Agora, o Governo do PT tentou o mesmo caminho, mas não deu certo. Foi um tiro que saiu pela culatra. Os tempos são outros.

Quero ver quem tem coragem de botar um broche do PT no peito e ir às ruas. As bandeiras de partidos esquerdistas e de sindicatos, que dão suporte ao regime, estão proibidas de serem desfraldadas nas ruas durante as manifestações. Chega de aproveitadores! O povo demonstra total lucidez. O movimento só não adquire mais força ainda por conta da ação dos vândalos que devem estar sendo financiados para conturbar. Não há outra explicação. Ninguém se arrisca assim sem ter uma motivação ou paga. Mas deixa para lá que a marcha é inexorável e agora, ou muda ou muda.

Só lamento o silêncio do semiárido nordestino. Agora seria a vez de um grande levante pedindo providências para uma causa secular. A Transposição continua paralisada, as obras construídas estão ruindo. O custo pulou de 4  para 8 bi e as águas não chegam nem vão chegar, se o povo da região não ganhar as ruas, pedindo investimentos estruturadores para transformar a região num celeiro produtivo  e acabar com a miséria existente na região.

A imprensa veiculada pela mídia eletrônica é conivente com esse silêncio porque participa de um conluio com os governantes estaduais e municipais para lhes dar suporte e encobrir seus desmandos e suas malversações.

Os governantes sempre foram acostumados a comprar os líderes e abafar os movimentos populares. Agora não há líderes. Se eles fazem falta, por outro lado, isso é muito bom porque fica impossível de os Joãos Santanas da vida manipularem o movimento com ações midiáticas.

Pedro Nunes Filho
*É advogado e sócio do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco – IAHGP.

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