Serra Branca comemora 54 anos de Emancipação Política com muitas histórias a contar

Serra Branca comemora 54 anos de Emancipação Política com muitas histórias a contar


Faz exatamente 54 anos que a cidade de Serra Branca, no Cariri Ocidental Paraibano, conquistou a Emancipação Política de seu município mãe, São João do Cariri. A cidade foi emancipada a partir da Lei nº. 2.065, sancionada na Assembléia Legislativa da Paraíba.
Nesta sexta-feira (26), a Câmara de Vereadores de Serra Branca foi palco para o lançamento de um livro do professor historiador Marcio Macedo e Fabíola Lemos que retrata aspectos históricos e culturais de Serra Branca ao longo de seus 54 anos como cidade emancipada. Segundo o pesquisador Márcio Macedo, a independência de Serra Branca foi motivada por dois grandes fatores: o econômico e o político.
O mais forte era o econômico. Segundo Márcio Macedo, Serra Branca na década de 30 era um pólo de produção do algodão em todo o Cariri e não demorou a ter o dobro da população da própria sede, São João do Cariri. Para ele, um fator que ajudou a acelerar o processo de emancipação de Serra Branca foi ter sua identidade ligada ao progresso e ao futuro.
Outro fator determinante no processo de emancipação foi a disputa política polarizada entre duas tradicionais famílias: os Brito e os Gaudêncios. Segundo o pesquisador, com o acirramento político entre as famílias, Serra Branca e São João do Cariri passaram a ser palco de uma disputa que prejudicava o domínio político de ambos os grupos e por isso pela única vez, as duas famílias se uniram para emancipar uma cidade da outra.
Origem
Por volta de 1820, na margem do Rio Jatobá, formou-se a Fazenda Jericó e em 1825, um fazendeiro denominado José Alves Pequeno, provavelmente para fugir das estiagens, fundou outra fazenda nas margens do Rio Porção. Diversas fazendas foram se instalando no Vale do Matinoré e as margens do rio e esses foram os primeiros habitantes da terra que mais tarde seria chamada Serra Branca.
Os fazendeiros construíam as casas para seus trabalhadores, cediam pequenas terras para os roçados e faziam de suas casas o centro do cotidiano da sociedade. Logo, todos os trabalhadores deviam obediência ao chefe que tomava conta da “organização da família”, que detinha por direito divino os domínios terrenos.
Daí nos primórdios de Serra Branca só serem lembrados os nomes das primeiras famílias que detinham as fazendas na região: Gaião, Antonino, Brito, Torreão, entre as diversas famílias que instalaram suas fazendas na região desse Vale.
A partir de 1854, São João do Cariri foi elevada a categoria de Comarca, abrangendo a região do Matinoré. Durante a segunda metade do século XIX na fazenda Serra Branca foi construída uma capela para Nossa Senhora da Conceição, unindo-se em volta desta capela onde hoje se localiza o bairro do Ahú, foi construído o primeiro povoado.
A região demarcada pela Serra do Jatobá passou a ser rota dos almocreves entre Campina Grande e Caruaru, que comercializava com os pontos comerciais da região. O pequeno povoado passava a iniciar sua vocação comercial, sendo referência para o cultivo do algodão em São João do Cariri.

De povoado a distrito
Em 1921, Serra Branca passou a ser distrito de São João do Cariri. A mudança de povoado para distrito foi favorecido pela produção algodoeira que estava chegando ao auge e o local passou a ser de muita importância para a política centralizada em São João do Cariri. Armazéns e maquinários para beneficiar o algodão foram instalados e a produção de passou a ser referência para todo o Cariri.
O poder econômico de Serra Branca no final da década de 1930 gerou conflitos com São João do Cariri, que levou um grande golpe das autoridades políticas e religiosas residentes em sua cidade. Com este avanço econômico, padres, políticos e vários trabalhadores em busca de melhores condições de vida, abastecida pela safra de algodão e pelo forte comércio local, migraram para Serra Branca. Em 1950, sua população era mais do que o dobro da população de São João do Cariri.
Bastidores da Emancipação
Em 1956, foi eleito para prefeito de Serra Branca, Genival de Queiroz Torreão, figura enigmática para o processo de emancipação do município. Será em sua gestão que o povo de Serra Branca mostrará sua força e realmente a iniciativa de emancipar-se politicamente, não por uma elite política, mas por vontade geral.
Percebe-se que desde a mudança da sede, houve uma dialética entre as forças políticas, porém a partir de 1956, as elite buscavam a emancipação, não só pelo bem de Serra Branca, mas também pela volta da sede para São João do Cariri. Com duas prefeituras seria mais fácil revezar o poder da elite política. A família Gaudêncio ficaria com Serra Branca e a família Brito com São João do Cariri.
A aliança entre Nivaldo Brito e Álvaro Gaudêncio facilitou o projeto de criação do município. No dia 25 de fevereiro de 1959, Brito apresentou na Comissão de Negócios Municipais na Assembléia Legislativa, o Projeto nº. 30/1959, criando o Município e Comarca de Serra Branca e dando outras providências.
Até o mês de abril, desse ano, a bancada do Cariri enfrentara uma verdadeira guerra para levar o projeto adiante. Tratava-se mais de divergências jurídicas do que políticas. A discussão estava mais baseada na divisão dos distritos. Serra Branca ficaria com Coxixola, Santa Luzia e Sucuru, que juntos arrecadavam mais da metade do total arrecadado na Comarca de São João do Cariri.
Apesar de todos os prós e contras, no dia 27 de abril de 1959 foi sancionada a Lei nº. 2.065, que criou o Município e a Comarca de Serra Branca, com a transferência da sede da Comarca de São João do Cariri para a cidade de São João do Cariri. Enfim os municípios estavam independentes um do outro, legalmente.
Um ano antes das eleições para prefeito a população preparava-se para comemorar a emancipação, quando o então prefeito Genival Torreão impetra um mandato de segurança contra a Lei que emancipou o município.
A princípio, Genival Torreão não quis abrir mão de Serra Branca, uma cidade próspera, para administrar São João do Cariri. E ao mesmo tempo ceder Serra Branca, ao adversário, já que quem governaria o município seria um interventor nomeado por Pedro Gondim, que era aliado dos Brito.
Foi esta identidade que levou o povo de Serra Branca ir às ruas durante a campanha da eleição para prefeito em 1959. Passeatas foram organizadas para apoiar o opositor de Genival Torreão, Inácio Antonino Gonçalves, que foi eleito pela força do povo e não pelo clientelismo, como era a prática comum das eleições passadas. O povo votou pensando na vontade geral de querer fazer valer a emancipação. Assim ganhou as eleições Inácio Antonino e no ano seguinte reinstalou a sede da Comarca de São João do Cariri.
Aspectos culturais
Já a pesquisadora e historiadora Fabíola Lemos pesquisou curiosidades históricas de Serra Branca. Segundo ela, tradicionalmente a cidade sempre foi conhecida por duas movimentadas festas: a do carnaval e a da padroeira Nossa Senhora da Conceição. Segundo ela, no carnaval dois blocos fizeram história em Serra Branca e faziam a alegria dos foliões com desfiles e festas nas casas das famílias.
A Festa da Padroeira mantém a tradição e sempre foi marcada pela disputa dos cordões vermelho e encarnado e suas candidatas. O pavilhão foi e continua sendo a grande marca da festa de Nossa Senhora da Conceição em Serra Branca.
Além das festas, a rivalidade entre os clubes Flamengo e Vasco fazem parte da tradição cultural serra-branquense. A criação de forma pioneira da Rádio Castelo Branco também fez história nos primeiros anos da cidade, o que fatalmente influenciou a consolidação do município no cenário da comunicação do Cariri com a presença e atuação de três emissoras de rádio, sendo duas delas comerciais.

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