Produção do algodão em consórcios agroecológicos com certificação orgânica participativa no município da Prata-PB será ampliada.



No Sertão do Cariri-PB, novas famílias agricultoras estão se inserindo no modelo sustentável do cultivo do algodão em consórcios agroecológicos através da Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano (ACEPAC/PB). Esse é um dos resultados do 1º Seminário do Algodão Agroecológico realizado no município da Prata-PB, no final do último mês (31/10).

O evento buscou sensibilizar e mobilizar agricultoras e agricultores do município a aderir ao programa do algodão em consórcios agroecológicos, que tem venda garantida para o mercado orgânico e comércio justo, além do incentivo financeiro municipal mediante cada quilo de pluma produzida e comercializada pela ACEPAC/PB.

“Estamos construindo sinergias com os entes públicos municipais na Prata-PB, isso é uma das estratégias do Projeto à incidência política. Essa caminhada com o poder executivo municipal e o parlamento municipal em prol do fortalecimento e inclusão de novas famílias à ACEPAC-PB visa potencializar a geração de renda circulante pela agricultura familiar na base da pirâmide da sociedade, a partir de oportunidades de acesso a mercados do algodão, outros produtos alimentares e sementes de adubação verde”, explica o coordenador do Projeto/Diaconia, Fábio Santiago.



Fábio Santiago (Diaconia), Amanda Procópio (ACEPAC-PB), prefeito da Prata-PB e secretário de agricultura durante 1º Seminário do Algodão Agroecológico na Prata-PB.


Participantes do 1º Seminário do Algodão Agroecológico da Prata-PB.

Uma das novas agricultoras que plantará o algodão em consórcios agroecológicos pela primeira vez é Talita Aparecida, que detalha suas expectativas. “O que me incentivou foi mais a maneira de cultivo, a parte que podemos fazer consórcios de outros tipos de plantas e o incentivo de minhas colegas da minha vila. Eu já tinha apanhado o algodão delas e gostei muito do modo de manejo do algodão”, explica.

Já a agricultora Kelly do Nascimento, que também plantará pela primeira vez, explica que se sente segura e acredita que dará tudo certo para a safra de 2024. “Me senti muito impactada no seminário sobre como funciona os protocolos, a forma de plantar e todas as minhas dúvidas foram sanadas. Você plantar o algodão com outras culturas e sem agredir o solo, isso é muito bom e vi que é possível. Espero que 2024 seja um ano bem promissor de chuvas para que eu consiga atingir um auge bom de produção”, afirma.

Segundo o assessor técnico da Arribaçã, Almir Freitas, essa ampliação do número de famílias também fortalece a estratégia de ampliação da matéria-prima para a Unidade de Beneficiamento de Alimentos (UBA) da ACEPAC/PB, que em breve será inaugurada em Monteiro-PB e processará 9 linhas de alimentos, além do empacotamento de sementes de adubação verde.

“Teremos uma nova reunião com os/as novatos/as para terminarmos de formalizar e explicar os pormenores da produção. Então vemos uma possibilidade muito grande de ampliação no número de agricultoras e agricultores no município da Prata-PB, engajados/as no plantio do algodão em consórcio com outras culturas como milho, feijão, gergelim e outros. A implantação da UBA será uma porta de comercialização desses outros produtos e vai gerar renda para quem produzir”, explica.



Agricultores e agricultores da ACEPAC-PB, equipe Diaconia e Arribaçã em campo consorciado do algodão. Assentamento Zé Marcolino – Prata/PB – Sertão do Cariri/PB.

Somente em 2022, foram cerca de R$212.062,09 de riqueza circulante regenerativa no município da Prata-PB, considerando a comercialização pluma, fio, emenda municipal, prêmio da empresa compradora do algodão, a Veja/Vert e o valor do caroço do algodão. Segundo o prefeito da Prata-PB, Genivaldo Tembório, o cultivo do algodão em consórcios agroecológicos é mais uma fonte de renda no município e tem demonstrado aumento exponencial de agricultoras e agricultores interessadas/os em aderir ao programa.

“A prefeitura não poderia deixar de fechar essa parceria para realização do seminário, onde foi apresentado também o preço do algodão e o incentivo financeiro que a prefeitura vai fazer, a partir de 2024, pela lei municipal pioneira de incentivo à produção com certificação orgânica participativa de R$0,50 a cada quilo de pluma produzido e comercializado pela ACEPAC/PB. Também disponibilizaremos 4 agricultores/as  multiplicadores/as do conhecimento para fazer o acompanhamento de novas agricultoras e agricultores, que estarão ensinando no dia a dia como produzir e como plantar o algodão orgânico”, explica.



Equipe Diaconia e ACEPAC/PB no gabinete do prefeito do município da Prata-PB.

Ainda para expandir a produção e a consecutiva geração de renda para a agricultura familiar no município da Prata-PB, um dos 15 de abrangência da ACEPAC-PB no Sertão do Cariri/PB e Curimataú/Seridó, estuda-se também a possibilidade de contratação da Diaconia para ampliar o assessoramento técnico, a partir da Lei municipal de incentivo à produção do algodão com certificação orgânica participativa. Segundo a vereadora e agricultora da ACEPAC-PB, Adeilza Procópio, esse projeto está em fase de construção na câmara de vereadores a partir das emendas impositivas do município.



Adeilza Procópio durante 1º Seminário do Algodão Agroecológico da Prata-PB.

“Vamos colocar as emendas impositivas para essa parceria entre a prefeitura com a Diaconia e câmara de vereadores do município, que é para dar mais assistência aos agricultores e agricultoras, tanto na parte prática e teórica, assim como na parte de empoderamento de construção e formação da agricultura familiar no âmbito do município da Prata-PB. Esse é o caminho que estamos buscando como projeto de vida para a agricultura familiar, onde a Diaconia vai ajudá-la a desenvolver essa temática dentro do âmbito social, principalmente”, explica.

A ACEPAC-PB é formada por 300 famílias agricultoras e acompanhada pela Diaconia, em parceria com a Arribaçã e o CEOP. Em 5 anos, já produziu mais de 69 toneladas de pluma de algodão e gerou mais de R$1.400.000,00 de riqueza circulante e regenerativa na região. Além disso, segundo observa Fábio Santiago, coordenador do Projeto/Diaconia, na Prata-PB, há 334 estabelecimentos rurais, onde 277 (83%) são da agricultura familiar. Atualmente, existem apenas 68 famílias envolvidas no Projeto. A expectativa é que em 2024, haja avanço ainda mais na inclusão de mais famílias ao Projeto. Isso é fundamental para perenizar a participação social ao Sistema Participativo de Garantia (SPG) da ACEPAC-PB.

” Vamos oportunizando e fortalecendo a marca/identidade da ACEPAC-PB pela agricultura familiar, tornando competitiva com outras existentes no mercado. Isso se torna estratégico para a sociedade em escolher alimentos mais saudáveis, contribuição para redução de gases de efeito estufa e desenvolvimento de organização de base da agricultura familiar com o selo brasileiro orgânico nos produtos das Unidades Familiares Produtivas (UFPs). A Prata-PB já é um dos munícipios que mais se produz algodão com certificação orgânica participativa, isso vai potencializar ainda mais. O município apresenta bons solos e uma quadra climática de chuvas que permitem alavancar a produção do algodão em consórcios agroecológicos”, afirma Santiago.   

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada pela Diaconia e tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner. No incentivo à gestão e disseminação do conhecimento, o Projeto é parceiro estratégico do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e da Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). Ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/IBA/Governo do Paraguai, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar no Rio Grande do Norte. A área de atuação é em 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil. Há colaboração com ONGs locais (Instituto Palmas – Alto Sertão de Alagoas, ONG Chapada – Sertão do Araripe/PE­ e Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato – Sertão do Piauí) para a expansão do cultivo do algodão consorciado e fortalecimento dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) – Associações Rurais de Certificação Orgânica Participativa. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o assessoramento técnico está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó.  No Sertão do Pajeú (PE) e Sertão do Apodi (RN), a Diaconia mantém escritórios e atividades e se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.

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