O município de Campina Grande vem, desde quando era povoado (1697-1789), passando pela Vila Nova da Rainha (1790-1863), até se transformar em cidade (1864), recorrendo à diversas formas e fontes de águas para conseguir abastecer sua população e apoiar o seu desenvolvimento.
Inicialmente dentro do próprio município, através do Açude Velho e Açude Novo (ambos de 1830), posteriormente pelo Açude de Bodocongó (1917), ulteriormente recorrendo às bacias hidrográficas de outros municípios, iniciando pelo Açude de Puxinanã (1928) no município de mesmo nome, depois Açude de Vaca Brava (1939) no município de Areia/Remígio e pelo Açude Epitácio Pessoa (1957) localizado no município de Boqueirão, o qual continua abastecendo a cidade até o momento.
A chegada do trem (1917) foi o grande impulsionador econômico e de desenvolvimento desta cidade, acarretando um crescimento exponencial da população, aliado ao entreposto de algodão, chegando a ser considerada a segunda Liverpool, cidade inglesa que liderava o comércio internacional desta cultura. Em 1917, a cidade era composta em torno de 18.000 habitantes, sendo que apenas 2.000 na zona urbana e 16.000 distribuídos espacialmente pela zona rural.
Na década de 1950 já tinha 173.206 habitantes, sendo a 13ª cidade do país em população e importância econômica. O último censo do IBGE (2010) apresentou uma população de 385.213, sendo que 94% eminentemente urbana. Ou seja, em quase cem anos a população da cidade teve um crescimento de 2.140%. Ora incentivado pela oportunidade de emprego, de estudo, de lazer, de tratamento de saúde, de polo cultural, ora motivado pela seca que afugentava a população campo.
Durante vários anos, a cidade passou por diversas crises hídricas, devido as secas e estiagens na região semiárida, algumas de proporções muito mais graves, como a de 1888 e a mais recente de 1998/2000. Porém, as estiagens registradas têm aumentado a cada século: no século XVI foram registradas 2, no século XV documentou-se 5, no século XVI aumentou para 13, no século XII também foi 13, no século XX foram registrados 23 estiagens. Será que este crescimento é devido ao aquecimento global e/ou mudanças climáticas? Ou por que os instrumentos de monitoramento estão a cada dia mais aperfeiçoados? Ou por que aumentaram os números de pesquisadores sobre o assunto? Independente da resposta, surge o projeto de Transposição do Rio São Francisco para solucionar este problema de falta de água, mas possivelmente continuará concentrando para o abastecimento das zonas urbanas e intensificando padrões de uso altamente excludentes, principalmente para os moradores da zona rural, que tem uma demanda difusa, uma população espacializada e diversificada na grande maioria dos 2 milhões de famílias agricultoras do semiárido.
A transposição não servirá para a realidade do semiárido como um todo. A falta de água na região é muitas vezes falta de gestão, distribuição espacial e temporal. Necessitamos de políticas públicas contínuas, como: o uso e manejo adequado do solo do semiárido; recomposição e preservação das matas da caatinga; erradicação da pratica milenar da coivara (queima dos restos culturais); recuperação e preservação das matas ciliares dos córregos, riachos e rios; recuperação e preservação das Áreas de Proteção Permanentes – APPs; utilização e disseminação de tecnologias de captação, conservação e manutenção das águas de chuvas; dentre outros.
O clamor popular dos campinenses por uma ou mais fontes de água que assegure o abastecimento humano se acentua, preponderantemente, nos momentos das crises de estiagens ou de secas severas, fazendo refletir a nossa tênue segurança hídrica, que atinge na limitação e/ou insegurança para o desenvolvimento econômico, já que a água é a mola propulsora da industrialização. E estamos vivenciando mais um momento deste. Uma cidade dinâmica e pujante, polo cultural e regional, excelência em Ciência, Tecnologia e Inovação, mas que tem sede de água!
Paraíba Geral por Ramiro Manoel Pinto Gomes Pereira
Foto: Reprodução da Internet
RAMIRO MANOEL PINTO GOMES PEREIRA É membro fundador e dirigente da Organização Campinense dos Amigos da Natureza – OCAN (1982/85) Técnico em Contabilidade pela Escola Estadual Elpídio de Almeida – “Estadual da Prata” (1985/1986) Membro fundador e dirigente do Movimento Ecológico Livre – MEL (1985/1988) Presidente com a reabertura (após a Ditadura) do Centro Acadêmico de Administração da Universidade Federal da Paraíba – UFPB – Campus II (1985/1986) Bacharel em Administração pela UFPB – Campus II (1985/1989) Membro fundador e dirigente estadual e municipal do Partido Verde no Estado da Paraíba (1985/1995) Membro fundador e dirigente do Movimento pelas Águas do Semi-Árido – MÁGUAS (1989/1990) Mestre em Engenharia de Produção – UFPB – Campus I (1992/1995) Participante da ECO´92 (Rio de Janeiro-1992) Representante discente do mestrado em Engenharia de Produção – UFPB – Campus I (1993/1994) Analista (por concurso público) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa (1994/atualmente) onde exerceu a função de Chefe Adjunto de Comunicação e Negócios (2003/2004) Membro e dirigente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário – SINPAF (1994/2005) Membro e dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Campina Grande (1995/2004) Especialização em curso para Agentes de Inovação e Difusão Tecnológica – UFPB – CAMPUS II (1996) Empresário (1999-2007) Membro do Partido Socialista Brasileiro (PSB) (2005/2010) Professor do Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento / Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas – CESED / FACISA (2006/2010), integrante da equipe editorial da Revista Eletrônica de Ciências – Tema (2005/em curso) Doutor em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG (2007/2012) Ministro extraordinário da comunhão da Diocese de Campina Grande (2009/em curso) Defensor e atuante na coleta de assinaturas na Campanha “Ficha Limpa” na ajuda ao combate à corrupção eleitoral. (2009) Suplente de Deputado Federal na Eleição de 2010 (2010/em curso) Vice-presidente da Associação Alphaville (2011/em curso) Participante da RIO+20 (2012) Delegado da 4ª Conferência Estadual de Meio Ambiente da Paraíba (2013)
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